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Rio Grande Reconhecimento

Pescadora rio-grandina recebe Prêmio Mulheres das Águas do Ministério da Pesca

Viviani Machado Alves foi uma das 10 premiadas entre mais de 200 inscritas

06/02/2025 15h34
Por: Sheron Nicolette Fonte: Secom/FURG
Marcos Jatahy/jpaudiovisual
Marcos Jatahy/jpaudiovisual

A pescadora artesanal Viviani Machado Alves recebeu o Prêmio Mulheres das Águas, do Governo Federal, concedido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). A indicação foi realizada pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (R)Existências Ambientais e Territoriais - (R)eat, do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI/FURG). Mais de 200 mulheres concorreram ao prêmio, em 10 categorias. A rio-grandina foi a única gaúcha entre as premiadas e venceu na categoria Pesca e Aquicultura em Águas Estuarinas.

A premiação está em sua 2ª edição e reconhece a homenageia o trabalho de mulheres dos setores pesqueiro e aquícola do Brasil. Defensora dos direitos das mulheres e homens da pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, Viviani destaca-se como símbolo de resistência e liderança em sua comunidade. Aos 45 anos de idade e com 25 de atuação na área, é considerada a principal voz em defesa da pesca artesanal do Rio Grande do Sul.

Incansável na defesa das pescadoras e dos pescadores artesanais, Viviani direciona seus esforços para a luta coletiva. É representante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP) e atua diretamente para garantir o reconhecimento e a valorização das mulheres na pesca artesanal, promovendo a visibilidade e a justiça social no setor. "Esse prêmio foi construído por várias mãos, de pescadoras de todo o Rio Grande do Sul, diante de tudo o que viemos sofrendo, como o enfrentamento às crises climáticas e todos esses empreendimentos que querem se instalar dentro das nossas comunidades. Somos nós, as mulheres da pesca artesanal, que estamos levantando a bandeira de luta", declara.

Quando Viviani fala sobre o que é ser pescadora, ressalta a autonomia, liberdade e dignidade da profissão, ao ser dona do próprio trabalho e dos próprios horários. E é essa autonomia que busca para si e defende para todas as mulheres pescadoras. "Pescadora artesanal pode ocupar o espaço que ela quiser. Ela pode ir muito além de ter um doutorado na universidade", destaca.

O resultado do 2º Prêmio Mulheres das Águas foi divulgado na última sexta-feira, 31. A cerimônia de entrega da premiação está marcada para 19 de março, em Brasília, e agora a pescadora vive a expectativa para o momento. "É um reconhecimento de toda a minha trajetória de anos. É uma alegria, no mês das mulheres, ir lá representar a todas nós, pescadoras." Quanto ao reconhecimento nacional, Viviani se diz feliz e emocionada, mas reflete que, acima do destaque pelo Ministério da Pesca, está o carinho de quem a inscreveu ao prêmio. "É muito importante para nós, que estamos na base, saber que existem pessoas que realmente nos respeitam, como os graduandos e mestrandos do (R)eat. Sou muito agradecida a todos eles, que apoiam e são voluntários nos projetos do MPP", afirma.

Pela coordenação do (R)eat, a professora Mercedes Solá Pérez conta que todo o processo de inscrição, com a indicação da pescadora, foi organizado pela mestranda Giulia Câmara Caldas, do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO-FURG), e que, desde esse momento, toda a equipe do núcleo torcia por um resultado positivo. "Viviani é uma referência para nós, para as comunidades pesqueiras, especialmente do sul do país, e para as mulheres. Nacionalmente, nos encontros nos quais participa, ela sempre consegue comunicar bem as necessidades e demandas das comunidades e há uma tendência das pessoas apoiarem o que diz", revela.

A notícia emocionou a equipe, que esperava o reconhecimento da trajetória da pescadora, mas sabia da falta de visibilidade da atividade na região Sul. "Sabíamos que, pelo Sul, ela representa muito as comunidades. Mas sempre fica uma dúvida porque, apesar das comunidades tradicionais pesqueiras serem numerosas no estado, nem sempre são reconhecidas, já que no Nordeste e no Norte há maior visibilidade da pesca artesanal", conta. Para a professora, o prêmio é também um reconhecimento ao trabalho que as mulheres exercem na pesca e na comunidade. "Ser pescadora artesanal é ter uma atividade produtiva, um trabalho, mas é também um modo de vida que se reproduz fundamentalmente pela transmissão de conhecimentos que elas compartilham com filhos e filhas. Esse trabalho não tem sido reconhecido historicamente, nem institucionalmente e nem sempre na própria comunidade", destaca.

A professora também faz questão de ressaltar a cultura e o papel das comunidades pesqueiras na sociedade. "Além de reproduzir a vida de um modo diferente e vinculado aos ciclos da natureza, as mulheres e homens das comunidades tradicionais pesqueiras fornecem 70% do pescado para as cidades, portanto, nos permitem ter um alimento saudável", afirma. Segundo Mercedes, o prêmio é importante para a própria sociedade conhecer a existência das comunidades pesqueiras, tanto nas ilhas, como na cidade. "Valorizarem seus modos de vida, seu trabalho e os produtos do seu trabalho", completa.