Por Dirceu Lopes
Vivemos em um mundo onde a velocidade das informações e os avanços tecnológicos nos permitem alcançar feitos antes inimagináveis. Porém, ironicamente, nos deparamos com a necessidade de reafirmar o óbvio, aquilo que deveria estar entranhado na essência de nossa humanidade. Por que ainda precisamos dizer que todo ser humano merece respeito, dignidade e as condições básicas para viver com saúde e alegria? Por que princípios tão simples parecem continuamente desafiados? Essa é a realidade de um mundo que insiste em olhar para frente sem reparar nas rachaduras que ele mesmo cria no presente.
A fome, uma chaga persistente, continua a assombrar milhões, mesmo em um planeta que produz alimentos suficientes para todos. Como podemos aceitar que, enquanto alguns descartam o excedente de comida, outros sequer têm o direito de comer três vezes ao dia? Onde está a indignação coletiva? Onde está a exigência de uma política global que priorize a vida acima do lucro? É insuportável que a miséria e a falta de comida sejam normalizadas em um mundo que, em teoria, possui os meios para erradicá-las.
A crise climática é outro exemplo gritante do descaso com o óbvio. Cientistas vêm nos alertando há décadas: precisamos mudar nossos padrões de consumo e cuidar do planeta. No entanto, líderes e corporações seguem priorizando o curto prazo, como se ignorar a ciência fosse uma escolha inócua. O resultado? Catástrofes naturais mais intensas, perda de biodiversidade e uma ameaça direta à existência humana. Por que continuamos permitindo que o negacionismo e a inação prevaleçam, mesmo sabendo que o preço será alto demais para todos nós?
Não podemos ignorar o papel destrutivo do ódio e da violência, alimentados por discursos de intolerância que crescem como ervas daninhas nas sociedades. A polarização, as guerras – sobretudo aquelas que levam os jovens para os campos de batalha – e a perpetuação da desigualdade mostram que a humanidade ainda não aprendeu com suas próprias tragédias. Quantas vidas ainda serão sacrificadas antes que compreendamos que a convivência pacífica é o único caminho para a prosperidade coletiva?
A ciência, que tanto contribuiu para o progresso da humanidade, também tem sido alvo de desconfiança e ataques. Durante a pandemia, vimos o custo da ignorância e do negacionismo: vidas perdidas desnecessariamente. Por que é tão difícil para alguns aceitar que a ciência não é opinião, mas sim o alicerce que sustenta a nossa busca por respostas e soluções? Rejeitar a ciência é rejeitar o futuro. E o futuro não espera por quem prefere viver nas sombras da desinformação.
Essa situação é agravada pela falta de empatia e pela normalização do egoísmo. Vivemos em um mundo que, ao invés de valorizar a comunidade, enaltece a competição desenfreada e o individualismo. Precisamos urgentemente resgatar os valores da solidariedade, do respeito mútuo e da convivência saudável. Mas como faremos isso se não nos dispusermos a nos questionar, a olhar para o outro e a assumir nossa responsabilidade como agentes de transformação?
A pergunta que se impõe é: até quando vamos aceitar viver em um mundo assim? Somos uma coletividade, mas agimos como se estivéssemos isolados. O que falta para compreendermos que o bem-estar individual está intrinsecamente ligado ao bem-estar do todo? Precisamos nos mobilizar, exigir mudanças, educar as novas gerações para que respeitem as diferenças e priorizem o diálogo. A mudança cultural de que tanto precisamos começa na forma como pensamos, falamos e agimos.
Este é um convite – ou melhor, um apelo – para que cada um de nós repense suas atitudes e priorize aquilo que é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e feliz. Não podemos mais nos dar ao luxo de ignorar o óbvio, de silenciar frente às injustiças e de perpetuar um sistema que oprime, exclui e destrói. O momento de agir é agora. O mundo só mudará quando cada um de nós assumir sua responsabilidade e agir em prol de um bem maior.
Para os críticos de plantão: - "Continuarei a escrever sobre o óbvio, porque ele é a base de tudo aquilo que deveria ser inegociável. Enquanto houver fome, desigualdade, negacionismo e intolerância, reafirmar o óbvio será um ato de resistência. Escrever sobre o óbvio não é redundância, é uma forma de reacender consciências adormecidas e provocar reflexões necessárias. E, se incomoda, talvez seja exatamente porque ele ainda não foi plenamente compreendido ou praticado."