No dia 06 de janeiro um ato-show mobilizou artistas gaúchos em defesa da TVE e da FM Cultura. Do rock à música folclórica, da mpb ao hip hop, artistas de diferentes gêneros musicais se apresentara no bar Ocidente em Porto Alegre. O manifesto é pela volta do programa Cantos do Sul da Terra, no ar desde 2011, pela FM Cultura, e posteriormente também na programação da TVE, ambas emissoras de comunicação pública do Rio Grande do Sul.
O programa Cantos do Sul da Terra, no ar desde 2011 é comandando por Demétrio Xavier e saiu da grade de programação porque o Governo do Estado negou a continuidade de cedência do apresentador, servidor do Tribunal de Justiça, para conduzir os programas em 2025.
Tal ação fez com que atos em apoio ao programa e a permanência do músico, apresentador e radialista surgissem em diferentes espaços culturais do Estado. O ato reuniu diversos apoiadores, entre eles funcionários e ex-funcionários das emissoras, ouvintes, parlamentares gaúchos, trabalhadores e trabalhadoras da cultura e sindicalistas.
De acordo com a secretaria de comunicação, responsável pelas emissoras “a não prorrogação da cedência do servidor Demétrio de Freitas Xavier se trata de decisão administrativa. ‘Existe a possibilidade do apresentador fazer o programa como voluntário, como já ocorreu entre 2020 e 2022 em formato semanal”, informou a pasta em reportagem do Brasil de Fato RS em dezembro do ano passado.
A importância da Comunicação pública
“Emissoras públicas são instrumentos que viabilizam a transparência das ações de governo, facilitando a compreensão das políticas públicas. Reforçam a participação cidadã, divulgam informações sobre serviços, orientam nas crises, combatem a desinformação e promovem a coesão social. (…) A extinção do programa conduziu à nova exposição pública da situação precária das emissoras, causada pela falta de investimentos e de pessoal. Esse cenário motivou a criação do Movimento em Defesa da TVE e da FM Cultura, que às claras se articula para tentar auxiliar no fortalecimento das mesmas”, destaca trechos do manifesto.
Com uma longa trajetória, as emissoras públicas do estado do Rio Grande do Sul, TVE e FM Cultura, vivem sob incertezas sobre seu destino desde o processo de extinção da Fundação Piratini, até então mantenedora das emissoras, iniciado em 2016.
Em 2018, o governo chegou a declarar o fim das suas atividades. Contudo a mobilização de servidores e do jurídico das entidades representatividades das categorias as manteve vivas, aguardando um desfecho final da Justiça. A TVE completou em 2024, 50 anos de existência e a FM Cultura, 35 anos.
“A situação é uma batalha jurídica e politica de sete anos. Enfrentamos várias dificuldades, mas de uma forma ou de outra, nós conseguimos manter as pessoas trabalhando até o momento e as emissoras funcionando”, destaca o advogado do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS), Antônio Carlos Porto Jr.
Conforme pontua o advogado, o governo anterior, de José Ivo Sartori, queria realmente acabar com as emissoras, e que aparentemente o atual, tem mais preocupações com a cultura. “Contudo, acontecimentos como esses (extinção do programa Cantos do Sul da Terra) deixam um pouco desapontados”, pontua.
Para ele, é necessário manter a mobilização e nunca desistir. “Essa é a grande tarefa que nós estamos trabalhando para manter o pessoal trabalhando, as emissoras funcionando, pela importância que elas têm.”
Vozes da Cultura Crioula e os sotaques do Continente de São Pedro e do Continente Latino-americano
Então presidente da Fundação Piratini em 2011, quando foi ao ar o Cantos do Sul da Terra, o professor e jornalista Pedro da Silveira Osório conta que a TVE e a FM cultura sempre tiveram abordagem diferencial da cultura regional. Na ocasião a gestão queria aperfeiçoar e expandir para a América Latina. “E coincidiu com a proposta do Demétrio, que já vinha há anos trabalhando nisso e tinha essa proposta também”, relembra.
Para ele, o programa é fundamental justamente por abordar a cultura de uma forma completamente diferenciada, transitando pela literatura, poesia, antropologia, linguística, pela sociologia. “Ele consegue fazer um nexo entre a nossa cultura regional, a cultura latino americana e tem até traços de programa nacional . Dá uma ideia de pertencimento muito forte. Desconstituir um programa desses é um gesto de quem não conhece, de quem não sabe bem o que está fazendo, porque a ideia de que está cancelando a cedência por uma razão econômica não se sustenta, porque há vários cedidos de parte a parte. É desconhecimento mesmo ou um propósito de de conduzir para outro lado a TVE e a FM cultura, que talvez nós não saibamos”, comenta.
Neste link o Manifesto completo.