O Brasil vive, mais uma vez, a agitação política que costuma marcar os anos de mandato presidencial e governamental. Antes mesmo de completar a metade do ciclo de quatro anos, já se desenha no horizonte a disputa pela próxima eleição. Essa dinâmica, movida pelos interesses de partidos, grupos econômicos, corporações midiáticas e do parlamento, muitas vezes transforma a política em um jogo de poder e desestabilização. No centro desse redemoinho, quem perde é o povo brasileiro, especialmente os que mais dependem de políticas públicas para melhorar suas condições de vida.
O modelo atual, de mandatos de quatro anos com possibilidade de reeleição, tem mostrado suas limitações. Governos passam mais tempo reagindo a crises políticas e ao desgaste intencional promovido por adversários do que implementando mudanças estruturais que beneficiem o país. Um presidente ou governador, ao assumir, dedica os dois primeiros anos a tentar estabilizar o governo e os dois últimos a se manter no cargo. Esse curto horizonte de ação restringe a capacidade de planejar e executar políticas públicas de longo prazo.
A reeleição, em tese, permitiria a continuidade de projetos importantes. Na prática, porém, ela alimenta o ciclo da politização eleitoral contínua, desviando recursos e energia para garantir vitórias nas urnas, em vez de focar na população. Além disso, o uso da máquina pública em campanhas e a perpetuação de grupos políticos no poder podem comprometer a transparência e a igualdade de condições no processo eleitoral.
Por isso, é hora de discutir uma mudança profunda: a adoção de mandatos de seis anos sem direito à reeleição. Com mais tempo para governar, presidentes e governadores poderiam dedicar-se integralmente à execução de políticas públicas, sem o peso constante da campanha eleitoral. A ausência de reeleição eliminaria a necessidade de agradar interesses específicos para garantir votos, permitindo decisões mais corajosas e alinhadas com o bem comum.
Essa mudança beneficiaria não apenas os governos, mas, sobretudo, a população brasileira. Com um horizonte mais longo, seria possível implementar políticas públicas de médio e longo prazos, que muitas vezes são negligenciadas por não apresentarem resultados imediatos. Infraestrutura, educação, saúde e meio ambiente são áreas que demandam planejamento contínuo e consistente, algo que um mandato de seis anos pode proporcionar.
No entanto, é importante destacar que a ampliação do mandato deve vir acompanhada de mecanismos de controle e fiscalização mais robustos. O combate à corrupção e a garantia de eficiência administrativa devem ser prioridades em qualquer governo, independentemente da duração do mandato. A sociedade precisa estar empoderada para exigir transparência e resultados concretos de seus representantes.
A transição para mandatos de seis anos sem reeleição também pode fortalecer a democracia brasileira. Ao reduzir o peso do imediatismo eleitoral, partidos políticos seriam incentivados a se estruturar melhor e a apresentar propostas consistentes, em vez de recorrer ao populismo e à polarização. Isso pode abrir espaço para uma política mais madura e menos fragmentada, focada em soluções reais para os problemas do país.
No fim das contas, essa mudança não se trata de beneficiar governos de A ou B, mas de garantir que o Brasil avance como nação. Quem precisa ganhar, de fato e de direito, é o povo brasileiro, especialmente os que mais precisam. Um modelo de mandato mais longo, sem reeleição, pode ser o primeiro passo para construir uma política mais eficiente, inclusiva e voltada para o futuro. Afinal, o compromisso da democracia é com o povo – e é isso que precisa estar no centro de qualquer debate sobre mudanças estruturais.