Quarta, 19 de Março de 2025 23:28
21°

Tempo limpo

Rio Grande, RS

Dólar com.

R$ 5,64

Euro

R$ 6,15

Peso Arg.

R$ 0,01

Coluna de Opinião

Vivendo a Periferia: Quando ousamos ser mulher!

Por Erika e Kaiane

08/03/2025 18h09
Por: Redação
Divulgação Mov. de Mulheres Rio Grande
Divulgação Mov. de Mulheres Rio Grande

“Mais respeito
Sou mulher destemida minha marra vem do gueto
Se tavam querendo peso então toma esse dueto
Desde pequenas aprendemos que silêncio não soluciona
Que a revolta vem à tona pois a justiça não funciona
Me ensinaram que éramos insuficiente
Discordei, pra ser ouvida o grito tem que ser potente”

100% Feminista (part. Karol Conká) - MC Carol

 

São as mulheres trabalhadoras que carregam no ventre a classe trabalhadora, somos nós que nutrimos e cuidamos da sociedade e, em grande parte dos casos, não existe a possibilidade de escolha sobre esse cuidado. O capital é a própria opressão, quando os homens o criam, e se colocam numa posição de precificadores, os trabalhos produtivos, tipicamente exercidos por eles, são mais valorizados em relação ao trabalho reprodutivo. É a exploração dos nossos trabalhos que oportuniza aos homens o enriquecimento financeiro e o prestígio profissional.

Em contraponto à opressão e violência que baseiam o patriarcado temos o feminismo, com uma ideia de libertação da sociedade da divisão em gêneros. A luta por direitos para mulheres e meninas passa pela desconstrução de uma perspectiva sexista e heteronormativa do senso comum que estabelece um papel específico para mulheres: que nos diz o que é a feminilidade.

Com o avanço do fascismo, fundamentalismo religioso e outras faces das dominação patriarcal, estamos retrocedendo a padrões que teriam sido aparentemente superados. O capitalismo se apropriou das nossas pautas e transformou-as em mercadorias.

O trabalho doméstico foi uma das primeiras formas de alienação das mulheres na sociedade pós revolução industrial, ao partir-se da ideia que o valor das mulheres está diretamente associado ao seu desempenho com as tarefas do lar e de cuidados com filhos, se estabelece uma relação de opressão para com estas mulheres. Um trabalho sem remuneração e sem reconhecimento da condição de legitimidade enquanto trabalho. A epidemia de cirurgias plásticas e estéticas somadas à massificação das redes sociais é o grande mito da beleza que nos aliena hoje, isso é, a ideia de que nosso valor está ligado aos parâmetros de beleza definidos não pela organicidade dos nossos corpos, mas sim pelo valor mercadológico. Com isso, a estratégia de alienação patriarcal, apesar de mudar a roupagem, continua roubando nosso tempo de refletir sobre a realidade que vivemos.

Desde os mais comuns, tal o trabalho doméstico e a maternagem, a inserção no mercado formal de trabalho, nesse ocupamos os postos que pior pagam, via de regra, associados ao “cuidar”, reforçando a ideia que a liberdade econômica anunciada pelo capitalismo é a história pra boi dormir mais irreal. Além disso, a pornografia, que está sendo naturalizada, acessada por pessoas cada vez mais jovens constitui no imaginário um ideario sexual mercadológico. À venda de corpos femininos para o prazer masculino, a produção de conteúdos para satisfazer desejos masculinos. A mercadoria que fomos socialmente condicionadas é a força motriz do mundo patriarcal.

Precisamos falar também, do prazer e libertação sexual, construído a duras penas com os anos de movimentos feministas. A primeira onda do feminismo foi emancipadora nesse sentido, em seguida, os direitos reprodutivos foram ampliados, principalmente com os métodos contraceptivos seguros popularizados nos anos de 1960, mesmo assim não temos direitos reprodutivos plenos na contemporaneidade, muitas lutas precisam continuar sendo travadas a fim de manter os direitos conquistados e avançar.

Urge lutar contra esta cultura de violência estrutural que nos assola! Nosso trabalho sustenta a sociedade, de forma organizada é possível construir um novo mundo feminista.

O dia 8 de março carrega consigo uma memória trágica no que tange a luta por direitos das mulheres, é avivar a indignação a respeito das inúmeras formas de violências que as mulheres sofrem. É simbólico. Movimentos feministas utilizam essa data como um momento de reflexão e ação antipatriarcal. Práticas feministas perpassam por extrapolar a lógica imposta de agir. Os sujeitos coletivos, horizontalmente organizados, fazem parte do dia a dia desse diverso e importante movimento social secular. A periferia tem rosto de mulher, assim como, a tomada de espaços de decisão sobre a cidade e a comunidade, que anteriormente nos foi negado, é uma exigência feminista urgente para a igualdade de gênero, a construção de um novo mundo possível está acontecendo.

A revolução é agora!

Há braços!